Quando olhamos a história percebemos que algumas épocas são marcadas por características bem próprias. A passagem de uma época a outra foi sempre um momento crítico, de divisões e separações. O mesmo acontece com a Igreja. Ela está no meio destas mudanças e foi marcada por estas transformações. Permanece o mesmo evangelho, os mesmos ensinamentos que tem a sua origem no Cristo, mas cada época ressalta alguns traços, apresenta um novo rosto. Lancemos um olhar sobre algumas épocas.
Cristinismo – Judaísmo
A Igreja nasceu no seio do judaísmo. No início era visto como uma manifestação da religiosidade judaica. Mas aos poucos foi apresentando características que a distinguiam do judaísmo. Os apóstolos saíram a proclamaram o que tinham ouvido do próprio Cristo. Logo apareceram duas realidades bem distintas. Os cristãos não precisavam ser circuncidados e marcaram o domingo como o dia da sua reunião, no lugar do sábado. Eram duas instituições que os judeus não podiam renunciar. Assim o cristianismo foi criando autonomia, foi manifestando um rosto sempre mais distinto do judaísmo. As comunidades foram organizando o culto, o corpo de doutrinas. Surgiu assim o Novo Testamento, calcado sobre os ensinamentos que os apóstolos tinham deixado.
Império Romano
Primeiro a Igreja foi perseguida, posteriormente foi acolhida pelo império pelo império. Foi um período de expansão, mas também de desafios. Diante de ataques dos adversários a doutrina cristã foi sendo fixada, e se mantém até hoje. Houve muitos concílios que iam fixando aquilo que vemos no símbolo dos apóstolos (credo), é o resumo da fé cristã. Foi um período de divisões e separações. Nesta época foi se organizando um
corpo de normas jurídicas que definiam a correção das atitudes. A doutrina canônica é fortemente calcada sobre o direito romano. A interferência do imperador era forte. Basta dizer que era ele que presidia os concílios. Houve muitas condenações e separações. Os ensinamentos eram os mesmos, mas se devia viver o Evangelho marcados pelos traços da época.
Mosteiros
Na idade média o rosto da Igreja foi marcado de maneira acentuada pelos mosteiros. Eles foram surgindo por toda Europa. A comunidade se reunia em grande parte ao redor dos mosteiros. Era a época do feudalismo que se caracterizava também pela construção dos grandes castelos. Nesta época o acento estava sobre a espiritualidade e, também, a organização da vida em torno de fortes normas morais. Acentuou-se nesta época um distanciamento entre o clero, que conhecia a doutrina, e os leigos que não eram instruídos. Assim, a Igreja era constituída por aqueles que ensinavam (os padres) e os que eram ensinados (os leigos). É uma marca que perdura até nossos dias.
Concílio Vaticano II
Havia uma inquietação na sociedade, a Igreja não conseguia fazer chegar o Evangelho de Cristo a todos. O Vaticano II foi convocado para que a Igreja repensasse o modo de estar presente no mundo, como tornar o Evangelho presente na sociedade. Afinal, a mensagem do Evangelho é para todos e em todos os tempos. A liturgia passou a ser celebrada na língua de cada nação, os bispos passaram a agir de modo colegiado, surgiram as conferências episcopais (ex. a CNBB), o apostolado passou a ser praticado através de atividades organizadas atendendo vários setores da vida na sociedade. Houve muitas transformações, mas os tempos também foram mudando.
Igreja Sinodal
A sociedade de hoje é marcada por um forte individualismo, pelo materialismo, pelo narcisismo, pelo desejo de sucesso imediato, pelo desejo de aparência, há um espírito de indiferença social e religiosa. Perante esta realidade o Papa Francisco afirma que o caminho sinodal é o que Deus espera da Igreja no terceiro milênio. Convocou um sínodo sobre a sinodalidade. É preciso aprender a caminhar juntos, superar as
discriminações que nos separaram durante séculos e assumir atitudes que caracterizam que somos irmãos. É tempo de colocar em prática os ensinamentos do Vaticano II que não foi totalmente assimilado. A Igreja é definida como Povo de Deus em comunhão. É um grande desafio, surge a urgência de deixar velhas práticas e assumir novas atitudes. Cristo veio para todos. O cristão é convidado a sentir o que Jesus sentia e fazer o que Jesus fazia. O mundo mudou. A Igreja é convidada a aprender a estar presente neste mundo, de forma eficiente. É uma nova época. Santo Agostinho já recomendava: nas coisas essenciais a unidade, nas secundárias a liberdade e em tudo a caridade.